MADRIGAL MELANCÓLICO – Manoel Bandeira

 


O que eu adoro em ti,
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe.

A beleza é um conceito
E a beleza é triste.
Não é triste em si,
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incerteza.

O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência.
Não é o teu espírito sutil,
Tão ágil, tão luminoso,
Ave solta no céu matinal da montanha. 
Nem é tua ciência
Do coração dos homens e das coisas.

O que eu adoro em ti,
Não é tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento, 
Graça aérea como o teu próprio pensamento,
Graça que perturba e que satisfaz.

O que eu adoro em ti,
Não é a mãe que já perdi.
Não é a irmã que já perdi.
E meu pai.

O que eu adoro em tua natureza,
Não é o profundo instinto maternal
Em teu flanco aberto como uma ferida.
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.

O que adoro em ti – lastima-me e consola-me!
O que eu adoro em ti, é a vida.

11 de julho de 1920

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